sexta-feira, 25 de março de 2011

Sociedade ROSAS DE OURO (Samba na década de 80)


Na chegada dos anos 80, a Mocidade Alegre vence com o enredo "Embaixada, Sonho de Bamba", um dos maiores sambas da história; vence as eliminatórias paulistas do Fantástico, e foi apresentado ao país todo. Nesse mesmo ano marca a primeira aparição de uma garota de 19 anos ao microfone de uma pequena escola de samba da Zona Leste, ela é Eliana de Lima, que puxa a escola Príncipe Negro da Vila Prudente. Mas não se deixem enganar, a primeira puxadora de samba em São Paulo foi Ivonete da Acadêmicos do Peruche, e logo após em 1977 aparece outra grande puxadora, Bernadete na Acadêmicos do Tatuapé. Em 1981 e 1982, a Vai-Vai, é campeã de forma incontestável, talvez sendo um pouco ofuscada pela Nenê de Vila Matilde, que traz sambas épicos nesses dois anos "Axé, Sonho De Candeia" em 81 e "Palmares, Raiz da Liberdade" em 82, chegando ao vice-campeonato com este último. O ano de 1982 também marca a chegada de Dom Marcos, como puxador da Cabeções da Vila Prudente, e Royce do Cavaco, auxiliando Tunicão, na Rosas de Ouro.

O ano de 1983 é marcado pela vitória da Rosas de Ouro, num ano em que a chuva foi o fator marcante; a "Roseira", balançou a Tiradentes, com o enredo "Nostalgia", cantando São Paulo antiga. O presidente Eduardo Basílio, como estigma de sorte abandona enredos africanos e aposta na linha de fazer carnavais tipicamente paulistanos. Durante esse ano, a escola Flor de Vila Dalila, no seu primeiro ano traz o samba "Exaltação ao Criador", famosíssimo entre os sambistas da cidade, e graças a aceitação popular, conquistou um surpreendente 7º posto. E novamente a Nenê traz um samba que se torna um dos hinos do Carnaval de São Paulo. "Gosto é Gosto e Não Se Discute" foi aclamado pelo público e crítica, e ajudou a escola a emplacar umas das melhores trilogias de sambas do carnaval paulistano.

Em 1984, o que marca é novamente Rosas de Ouro, com o enredo que contava a história da Faculdade de Direito do Largo São Francisco em São Paulo, a escola chega ao bicampeonato. Talvez esse seja o ano mais disputado da história do samba paulistano, onde na disputa tranquilamente poderíamos ter 6 escolas brigando cabeça a cabeça pelo título, o que engrandeceu mais ainda essa conquista da Rosas de Ouro. Mas o samba em si, não teve grande aceitação popular, o samba mais cantado daquela noite foi o da União Independente da Vila Prudente, que trazia como tema Elis Regina. Outro fato que marcou o carnaval de 1984, foi a recém-chegada Águia de Ouro, com carros imensos, contando a história do Teatro, e com a promessa Royce do Cavaco, a escola foi muito aplaudida, a ponto de ser apontada até como favorita, mais pouco compreendida e sofrendo um claro boicote por ser uma novata caiu, o que até hoje é motivo de protesto lá pelas bandas da Pompeia.

O ano seguinte (1985), uma surpresa, a Secretária de Turismo, Anhembi e UESP, se unem junto as entidades que promovem a festa no Rio de Janeiro, e promulga: "O Vencedor do Carnaval Paulistano vai desfilar no Rio de Janeiro". A correria foi geral, o luxo tomou conta de todas as escolas, houve um esforço tremendo de todos, e a campeã foi a Nenê de Vila Matilde, acabando assim com uma fila que durava 15 anos sem título e se torna a primeira e única escola paulistana a desfilar na Sapucaí, e com muito mérito, pois até aquele ano a Nenê era a escola com mais títulos do carnaval de São Paulo, havia conquistado 10 até o momento. Mas naquela noite, talvez o que poucos sáibam, é que a aclamada da noite foi a Barroca Zona Sul, escola criada por Pé Rachado, grande baluarte do samba paulistano, ex-presidente da Vai-Vai. Com o enredo "Chico Rei - O Esplendor de Uma Raça". O fator que tirou o título da escola foi o atraso no tempo, que tirou 6 pontos, e afastou qualquer possibilidade de campeonato. Outra curiosidade foi a Unidos do Peruche, que tira Eliana de Lima da Barroca Zona Sul, e com o samba "Água Cristalina", conquista o Brasil e vence o concurso do Fantástico.

Em 1986, a campeã é a Vai-Vai e surge ali Thobias da Vai-Vai, um fenômeno. Talvez a notícia triste ficou por conta da cisão que as agremiações tiveram com a UESP, em uma briga entre Eduardo Basílio, Chiclé do Vai-Vai, Inocêncio Thobias e Seu Nenê surge a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, muda-se o nome do desfile principal, que passa a se chamar Grupo Especial. Nenê de Vila Matilde e Unidos do Peruche, ficam na UESP, mais perdem muita força entre as grandes, ficando para segundo plano.

Em 1987, fica marcada a safra genial de sambas, e o aparecimento de agremiações como Acadêmicos do Tucuruvi e Colorado do Brás (que chegou em 1986), a disputa mais uma vez é grande, Unidos do Peruche aparece com um jeito novo de evoluir (o jeito que hoje se evolui), larga a mão do "zigue-zague", traz alegorias e fantasias fora do padrão paulistano, graças ao intercâmbio que o presidente Walter Guaríglio fazia constantemente ao Rio de Janeiro. Camisa Verde e Branco com a ousadia do Mestre Divino traz a "Bateria de um surdo só", copiando fielmente a Mangueira, Mocidade Alegre chegou com o samba mais bonito da história cantado na primeira pessoa "50 Anos de Comunicação - Moraes Sarmento" e o Vai-Vai e o Nenê de Vila Matilde sambaram muito e tiveram seus sambas cantados e aceitos pela crítica. Mais a campeã no detalhe foi a Vai-Vai, graças a uma falha que tirou o título do Camisa Verde e Branco, onde uma alegoria se quebrou em frente a cabine de julgamento de alegoria.

No ano do centenário da abolição, se estudou um tema único para todas as escolas, mais a ideia não foi para frente causando um alívio geral aos carnavalescos das escolas. Em 1988, ficou marcado o crescimento absurdo do Unidos do Peruche que traz para a passarela paulistana, o maior intérprete da história Jamelão. Outros fatos que marcaram muito foi o Colorado do Brás, que com o maior samba depois de "Narainã - A Alvorada dos Passáros" do Camisa Verde em 77, vem sem alegorias, somente com seu abre-alas e alguns tripés, cantando "Quilombo Catopês do Milho Verde - De Escravo à Rei da Festa", Flor de Vila Dalila, que traz ao microfone Carlinhos de Pilares, o já consagrado intérprete carioca, Nenê de Vila Matilde traz naquele ano um dos sambas mais amados pela sua comunidade, "Zona Leste Somos Nós" falava sobre a região que a escola representa, região mais populosa e pobre da cidade, mas a escola teve mudanças, contratou Chuveiro no lugar de Armando da Mangueira, que na escola da Zona Leste estava desde 1979, tendo passagem entre 1968 até 1975, onde foi para a Unidos do Peruche reeditar a parceria que fazia com Jamelão na década de 60. Camisa Verde e Branco, traz pela última vez, "Dona Sinhá", que muito doente faz questão de desfilar pela escola, a escola é a primeira a trazer alegorias iluminadas à "Luz Neon" em São Paulo. Com o enredo " Boa Noite São Paulo - Um Convite Para Amar", a escola belisca um tri-vice. O samba-enredo do Rosas de Ouro, puxado por Royce do Cavaco, vira um clássico, eternizado em transmissões esportivas (por meio do refrão Pra frente é que se toca a bola. E a bola rola trazendo emoção...). Já o troféu vai para o Vai-Vai, fazendo um desfile arrebatador, e perfeito com o tema "Amado Jorge - A História da Raça Brasileira"
Em 1989, ouve mais uma vez um assombroso salto, mais não de todas escolas, mais especialmente de uma…Unidos do Peruche. A escola vinha a anos fazendo intercâmbios no Rio de Janeiro, crescendo desde 1985, em 1989 ela atinge o apogeu com "Os 7 Tronos dos Divinos Orixás", contando com ícones como Joãosinho Trinta, Laíla e Jamelão, a escola causa talvez o maior impacto que a Avenida Tiradentes já viu, com alegorias grandiosas, e uma qualidade sem igual em fantasia, o Peruche foi soberano a ponto de todas as escolas que vieram a seguir não passar de 278,00 pontos, de tão tamanha que foi a superioridade. Mas, mesmo vindo como franca favorita, o Peruche perde para um forte conjunto do Camisa Verde e Branco, e por falhas de Jamelão, que pouco acostumado com o nosso carnaval, atrapalhou-se alguma vezes durante o desfile prejudicando assim a trajetória da escola. A outra surpresa da noite fica por conta da Leandro de Itaquera, que ao chegar do Grupo 1, traz Eliana de Lima e o enredo "Babalotim, a História dos Afoxés". O samba e a bateria foram o ponto alto do desfile, e a interpretação da puxadora Eliana de Lima desse samba que é um primor de composição, considerado um dos melhores da história do carnaval.

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